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O papel que atribui aos arquétipos é perfeitamente inteligível nos termos da teoria de informação:

1- condicionam, orientam e sustêm a formação do psiquismo individual em função do programa que levam ;

2- intervêm quando o psiquismo está perturbado, segundo as informações que recebem, seja do próprio psiquismo, seja do meio ambiente;

3- asseguram a troca de informação com o meio. Acrescentamos que, para Jung, não há nenhuma hesitação, os arquétipos estão inscritos no corpo como todos os órgãos de informação da matéria viva. Sua transmissão é genética. Jung faz uma comparação com o olho ao distinguir arquétipo de imagem arquetípica. As imagens arquetípicas são tão diferentes dos arquétipos quanto as imagens ópticas o são do olho, ambos formam-se na relação entre o órgão e o objeto externo”. (7)100

- Um grande exemplo do componente arquetípico na psique é encontrado no Atlas da História Universal, The Times, O Globo, Centro Cultural Banco do Brasil, Edição em português, 1995, pag. 82: “Não podemos deixar de nos impressionar pelo fato de que a agricultura, as cidades, a arquitetura, a metalurgia e a escrita se desenvolveram nos continentes do Velho e Novo Mundos, apesar da inexistência de contato entre ambos.
... a América pode ser considerada pelos arqueólogos que estudam o Velho Continente como uma prova de laboratório que demonstraria que, em condições parecidas, dois grupos humanos desenvolveram as mesmas estruturas sociais, mesmo encontrando-se completamente isolados um do outro. É como se os primeiros seres humanos que se espalharam pelo mundo tivessem no seu interior um protótipo de civilização que apenas esperava o clima favorável advindo depois da Idade do Gelo, e o especial potencial dos vales dos grande rios do Velho Mundo ou as terras altas e baixas do México e Peru, para materiali-zar-se.”

- Sabemos que toda e qualquer experiência humana só é possível dada à presença de uma predisposição subjetiva. Mas em que consiste esta predisposição? Em última instância, consiste numa estrutura psíquica inata, que permite ao homem ter tais experiências.
Assim, todo o ser do homem, corporal e espiritualmente, já pressupõe o da mulher. Seu sistema está orientado a priori para ela, do mesmo modo que para um mundo bem definido, em que há água, luz, ar sal, hidratos de carbono, etc. A forma do mundo em que nasceu já é inata no homem, como imagem virtual. Assim é que pais, mulher, filhos, nascimento e morte são, para ele, imagens virtuais, predisposições psíquicas. Tais categorias apriorísticas são de natureza coletiva.
Devemos pensar nestas imagens como isentas de conteúdo, sendo portanto inconscientes. Elas adquirem conteúdo, influência, e por fim tornam-se conscientes, ao entrarem fatos empíricos que tocam a predisposição, infundindo-lhe vida. (2)66

- Segundo Jung, o inconsciente coletivo significa que a consciência individual é tudo menos uma tábula rasa, ou um lençol branco como dizia Locke, mas é influenciado no mais alto grau por predisposições herdadas.
Abrange em si a vida psíquica de nossos ancestrais, retroagindo até os primórdios mais remotos.
Por isto, constitui o que ele descreveu como “a matriz de todas as ocorrências psíquicas”, uma espécie de arcabouço que determina a forma geral e as fronteiras da vida consciente, pois tal como o corpo herda uma estrutura que nos determina os contornos físicos, a mente é também estruturada por fatores herdados. As crianças recebem os estímulos sensoriais que lhes chegam de fora, não com quaisquer aptidões, mas com aptidões especiais, que são “instintos herdados” e pré-formados.
O inconsciente coletivo seria um potencial para certos tipos de atividades psíquicas tipicamente humanas - não tanto um fato, por conseguinte, mas uma disposição. Esse potencial herdado consiste no que Jung denomina de arquétipo.
Todo o conjunto, ou sistema interligado de arquétipos, é a estrutura que confere sentido e significado à vida psíquica, uma vez que contém “toda a herança espiritual da evolução da humanidade”. Há tantos arquétipos quantas são as situações típicas da vida e cita como exemplos: anima, sombra, si-mesmo, nascimento, criança, herói, velho sábio e mãe-terra. (8)154

- Os arquétipos desempenham mais do que uma função meramente formal ou racional, organizando e dando forma aos dados da experiência, mas são tanto sentimentos como pensamentos, elementos espontâneos da personalidade total, pelo que constituem o próprio cerne da ação humana e da vida emocional.
Além disso, possuem uma característica “numinosa”. Jung considera como numinosa - “o sentimento de alguma coisa especial, e mesmo sagrada, que parece transcender os limites da experiência comum”. A idéia de Deus, portanto, é em si mesma uma imagem arquetípica, incorporando um senso de mistério e veneração.
Jung argumenta que instinto e arquétipo encontram-se na concepção biológica de padrão de comportamento, pois da mesma maneira que o comportamento dos organismos não é aleatório, mas segue um padrão programado, também o padrão de comportamento humano é modelado por formas arquetípicas, estas últimas sendo imagens que representam o significado do instinto. (8)155

- Os arquétipos são dotados de iniciativa própria, e também de uma energia específica que lhes é peculiar. Podem, graças a esses poderes, fornecer interpretações significativas (no seu sentido simbólico) e interferir em determinadas situações com seus próprios impulsos e suas próprias formações de “pensamento”.(9)79

- Só se deveria considerar como instintos os processos inconscientes e herdados que se repetem uniformemente e com regularidade por toda a parte. Ao mesmo tempo eles devem possuir a marca da necessidade compulsiva, ou seja, um caráter reflexo. No fundo, tal processo só se distingue de um reflexo meramente sensitivo-motor por sua natureza bastante complicada.

Por isso, William James chama ao instinto, um mero impulso excito-motor, devido à preexistência de certo “arco reflexo” nos centros nervosos.
Os fatos dos instintos serem invariavelmente herdados, não traz nenhuma contribuição para explicar a origem; apenas remete o problema para nossos ancestrais. É por demais conhecida a opinião segundo a qual os instintos se originaram de um determinado ato repetido da vontade, inicialmente individual e posteriormente generalizado.

Por outro lado, convém sublinhar que o fator aprendizagem falta inteiramente nos instintos mais maravilhosos, observados no mundo animal. Em muitos casos é impossível até mesmo imaginar como tenha podido haver alguma aprendizagem e exercitação.
Seja por exemplo, o instinto de reprodução da Pronuba yuccasella, a mariposa da iúca.
Cada flor da iúca se abre, apenas, por uma única noite. A mariposa tira o pólen de uma dessa flores e o transforma em bolinha. A seguir, procura uma segunda flor, corta-lhe o ovário e, pela abertura, deposita seus ovos entre os óvulos da planta; vai em seguida ao pistilo e enfia a bolinha de pólen pelo orifício, em forma de funil, do ovário.
A mariposa só executa esta complicada operação uma única vez em sua vida. Daí que se procura explicar esse fato, não pela aprendizagem e sim no fator intuição (inspiração na filosofia de Bergson).

A intuição decorre de um processo inconsciente, dado que o seu resultado é uma idéia súbita, a irrupção de um conteúdo inconsciente na consciência.
A intuição é, portanto um processo de percepção, mas, ao contrário da atividade consciente dos sentidos e da introspecção, é uma percepção inconsciente. Por isto é que, na linguagem comum, nos referimos à intuição como sendo um ato “instintivo” de apreensão, porque a intuição é um processo análogo ao instinto, apenas com a diferença de que, enquanto o instinto é um impulso predeterminado que leva a uma atividade extremamente complicada, a intuição é apreensão teleológica (que relaciona um fato à sua finalidade) de uma situação, também extremamente complicada.

Essas formas a priori inatas da intuição são os arquétipos da percepção e da apreensão. (Antes Jung denominava os arquétipos de imagens primordiais)
Os arquétipos são determinantes necessárias e a priori de todos o processos psíquicos. Da mesma maneira como os instintos impelem o homem a adotar uma forma de existência especificamente humana, assim também os arquétipos forçam a percepção e a intuição a assumirem determinados padrões especificamente humanos. Os instintos e os arquétipos formam conjuntamente o inconsciente coletivo. (10)67-69

- Do mesmo modo como a apreensão consciente imprime forma e finalidade ao nosso comportamento, assim também a apreensão inconsciente determina a forma e a destinação do instinto, graças ao arquétipo. Assim como dizemos que o instinto é “reprimido”, assim também a intuição, que põe em ação o instinto, isto é, a apreensão mediante o arquétipo, é de incrível precisão. Por isso, a mariposa da iúca, acima mencionada, deve trazer dentro de si, por assim dizer, uma imagem daquela situação que provocou o instinto. Esta imagem dá-lhe a capacidade de “reconhecer” as flores da iúca e sua estrutura. (10)72

- J. J. Clarke diz: A fim de esclarecer as opiniões de Jung sobre esse assunto, teremos que investigar com mais detalhes o conceito de instinto. Vimos que, em seus últimos anos, Jung veio a considerar o arquétipo não apenas como uma entidade espiritual, mas como uma função psíquica com raízes em instintos biológicos.
Processos psíquicos, escreveu, “estão de alguma forma ligados a um substrato orgânico”, e como tal, “estão articulados com a vida do organismo como um todo e por conseqüência compartilham do seu dinamismo – em outras palavras, devem participar em seus instintos”. Os arquétipos em si representam a expressão simbólica consciente de pulsões instintuais inconscientes, cujas origens se encontram no reino puramente orgânico.
Sumariou ele essa opinião dizendo que “os arquétipos são simplesmente as formas que os instintos assumem” e, por conseguinte, “a imagem (arquetípica) representa o significado do instinto”.

Ora, grande ceticismo vem sendo manifestado em anos recentes a respeito da idéia de instinto, freqüentemente condenado como um conceito metafísico ou obviando a possibilidade de pessoas assumirem responsabilidade por seus atos. Para Jung, a noção nada tinha de misteriosa, representando simplesmente a idéia de um padrão herdade de comportamento e, daí, o arquétipo era tão-somente a disposição para certo repertório ou padrão de atividade psíquica. Como tal, não limita necessariamente o comportamento, mas proporciona um arcabouço dentro do qual tornam-se possíveis certos tipos de expressão psíquica.
Trata-se, para usar o termo de Ernst Mayr, de um “programa aberto” geneticamente adquirido, mas que, ainda assim, permite grande variedade de comportamentos, dependendo de circunstâncias ambientais. (8)173

- É bem verdade que, mesmo depois de 1919, continuou a usar a expressão ambígua “imagens primordiais”, além de “arquétipo”, e que insistia em referir-se aos arquétipos quer como imagens, quer como disposições. Mas isso se deve mais à sua típica carência de precisão terminológica, uma falha em sua posição teórica. Sustentou, invariavelmente, que era a disposição para ter certas idéias e imagens que passava de uma geração para outra, e não as próprias idéias e imagens. Os arquétipos, insistiu vezes sem conta, “não são idéias herdadas, mas possibilidades herdadas”. Os conteúdos reais da consciência “são todos adquiridos individualmente”. (8)161

- O homem nasce com um cérebro altamente diferenciado, que o dota de uma ampla faixa de funções mentais; estas não foram adquiridas ontogeneticamente, nem foram por ele desenvolvidas.
Na medida em que os cérebros humanos são uniformemente diferenciados, nessa mesma medida a função mental possibilitada é coletiva e universal.
Assim é que se explica o fato de que os processos inconscientes dos povos e raças mais afastadas apresentem uma correspondência impressionante que se manifesta, entre outras coisas, pêlos temas e formas mitológicos autóctones.
A semelhança universal dos cérebros determina a possibilidade universal de uma função mental similar. Tal função é a psique coletiva, que se compõe de um espírito e uma alma coletivos (espírito coletivo=pensamento coletivo).

Na medida em que há diferenciações correspondentes à raça, tribo ou à família, também há uma psique coletiva limitada à raça, tribo e família, acima de nível de uma psique coletiva “universal” mais profunda.

A psique coletiva corresponde à parte solidamente fundada, herdada, e que por assim dizer funciona automaticamente, sempre presente ao nível impessoal ou suprapessoal da psique individual. O consciente e o inconsciente pessoais, correspondem à parte adquirida e desenvolvida, ontogeneticamente, como diferenciação pessoal. (2)124

- A diferenciação pessoal dos primitivos está no início e sua função mental é, pois, essencialmente coletiva. Eles se identificam, mais ou menos, com a psique coletiva, possuindo assim todas as virtudes e todos os vícios, sem caráter pessoal e sem contradição interna. A contradição só aparece quando começa o desenvolvimento pessoal da psique e quando a razão descobre a natureza irreconciliável dos opostos.
A conseqüência dessa descoberta é o conflito da repressão. Queremos ser bons e portanto devemos reprimir o mal; e com isto o paraíso da psique coletiva chega ao fim. A repressão da psique coletiva foi uma condição necessária para o desenvolvimento da personalidade. (2)127
 

 

4. SOMBRA- Esse termo foi usado pela primeira vez por Nietzsche em 1879 em seu ensaio intitulado O Viajante e sua Sombra, com a finalidade de abrir espaço ao lado mais tenebroso da natureza humana como contrapeso às idealizações predominantes, de reconhecer o papel, na psique humana, desse segmento. (8)150. Idéia essa compartilhada por Jung. - Segundo Edward C. Whitmont (A Busca da Sombra. 1991:36) Sombra é tudo aquilo que foi reprimido durante o desenvolvimento da personalidade por não se adequar ao ideal do ego. O ideal do ego representa o conjunto de valores moral e culturalmente aceitáveis aos quais o homem deve se adaptar no seu processo de formação e adaptação cultural. Os ele-mentos que forem opostos a esse padrão são jogados ao “porão”, na sombra. - Jung dizia que tínhamos a tendência de subestimar ou ignorar aquela faceta de nossa personalidade que nos é desagradável, aquelas características que não combinam com a imagem que fazemos do melhor de nós mesmos e que muitas vezes mostram que somos mesquinhos, cruéis, e até violento e sádicos. Mas precisamos reconhecer que a sombra é indispensável para a constituição de nossa personalidade total.Da mesma maneira que a natureza é capaz de extremos de beleza e de horror, herdamos também essas possibilidades opostas através das profundezas inconscientes da psique.Nessas profundezas, não raro enganosamente calmas na superfície, encontram-se os primeiros sinais do despertar de tempestades violentas que, se não forem reconhecidos e explicados em nosso desenvolvimento pessoal, atrairão calamidades para nós. O preço da repressão, de recusar-se a reconhecer a existência do vulcão e de seus perigos, é muito alto para não só para o indivíduo, que, de um ser manso e sensato pode ser transformado em um maníaco ou em uma besta selvagem, mas também para a sociedade, que pode destruir-se, se deixar de reconhecer e dar expressão às poderosas forças inconscientes que nela existem. (8)151- Infelizmente, não se pode negar que o homem como um todo é menos do que ele se imagina ou gostaria de ser. Todo indivíduo é acompanhado por uma sombra, e quanto menos ela estiver incorporada à sua vida consciente, tanto mais escura e espessa ela se tornará.Uma pessoa que toma conhecimento de sua inferioridade, sempre tem mais possibilidade de corrigi-la. Essa inferioridade se acha em contínuo contato com outros interesses, de modo que está sempre sujeita a modificações. Mas quando é recalcada e isolada da consciência, nunca será corrigida. E além disso, há o perigo de que, num momento de inadvertência, o elemento recalcado irrompa subitamente.De qualquer modo, constitui um obstáculo inconsciente, que faz fracassar os esforços mais bem intencionados.Trazemos em nós o nosso passado, isto é, o homem primitivo e inferior com seus apetites e emoções, e só com um enorme esforço podemos libertar-nos desse peso.Nos casos de neurose, deparamos sempre com uma sombra consideravelmente densa. E para curar-se tal caso, devemos encontrar um caminho através do qual a personalidade consciente e a sombra possam conviver (5)81.- Se as tendências reprimidas da sombra fossem totalmente más, não haveria qualquer problema. Mas, de um modo geral, a sombra é simplesmente vulgar, primitiva, inadequada e incômoda, e não de uma malignidade absoluta. Ela contém qualidades infantis e primitivas que, de algum modo, poderiam vivificar e embelezar a existência humana; mas o homem se choca contra as regras tradicionais (5)83.- A sombra não é o todo da personalidade inconsciente; representa qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego - aspectos que pertencem sobretudo à esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes. Sob certos ângulos, a sombra pode, igualmente, consistir de fatores coletivos que brotam de uma fonte situada fora da vida pessoal do indivíduo.(Em (4)254 Jung diz que a sombra é um arquétipo, é uma personalidade oculta, recalcada, freqüentemente inferior e carregada de culpas, cujas ramificações se estendem até o reino de nossos ancestrais animalescos, englobando, deste modo, todo o aspecto histórico do inconsciente).Quando uma pessoa tenta ver sua sombra, ela fica consciente (e muitas vezes envergonhada) das tendências e impulsos que nega existirem em si mesma, mas que consegue perfeitamente ver nos outros - coisas como o egoísmo, a preguiça moral, a negligência, as fantasias irreais, as intrigas e as tramas, a indiferença e a covardia, o amor excessivo ao dinheiro e aos bens - em resumo, todos aqueles pequenos pecados que já se terá confessado dizendo: “Não tem importância; ninguém vai perceber e, de qualquer modo, as outras pessoas também são assim”.Se você se enche de raiva quando um amigo lhe aponta uma falha, pode estar certo que aí se encontra uma parte da sua sombra, da qual você não tem consciência. É natural que nos sintamos aborrecidos quando gente que “não é melhor” do que nós vem nos criticar por faltas devidas à sombra.A sombra não consiste apenas de omissões. Apresenta-se muitas vezes como um ato impulsivo ou inadvertido. Antes de se ter tempo para pensar, explode a observação maldosa, comete-se a má ação, a decisão errada é tomada, e confrontamo-nos com uma situação que não tencionamos criar conscientemente. Além disso, a sombra expõe-se, muito mais do que a personalidade consciente, e contágios coletivos.O homem que está só, por exemplo, encontra-se relativamente bem; mas assim que vê “os outros” comportarem-se de maneira primitiva e maldosa, começa a ter medo de o considerarem tolo se não fizer o mesmo. Entrega-se então a impulsos que na verdade não lhe pertencem.Particularmente, quando estamos em contato com pessoas do mesmo sexo é que tropeçamos tanto na nossa sombra quanto na delas. Apesar de percebermos a sombra da pessoa do sexo oposto, ela nos incomoda menos e desculpamo-la mais facilmente (9)168,169- Se os homens fossem educados no sentido de ver o lado sombrio de sua natureza, provavelmente aprenderiam a compreender e a amar verdadeiramente os seus semelhantes. Um pouco menos de hipocrisia e um pouco mais de tolerância em relação a si mesmo só podem dar bons resultados em relação ao próximo; pois o homem tem uma inclinação nítida para transferir aos seus semelhantes a injustiça e a violência que exerce sobre a sua própria natureza. (10)132

 

5. PERSONA - A repressão da psique coletiva foi uma condição necessária para o desenvolvimento da personalidade.O desenvolvimento da personalidade entre os primitivos, ou melhor, o desenvolvimento da pessoa é uma questão de prestígio mágico. A figura do feiticeiro e a do chefe da tribo são significativas. Ambos se distinguem pela singularidade de seus ornamentos, que exprimem o caráter de um e de outro. A peculiariedade de sua aparência os separa dos demais e tal segregação é reforçada ainda pela posse de segredos rituais.Por estes e outros meios o primitivo cria um invólucro que cerca, que pode ser designado como PERSONA (máscara).Como sabemos os primitivos utilizam máscaras na cerimônia do totem (símbolo de uma coletividade: animal, vegetal ou qualquer objeto como tribo ou clã, e que é considerado protetor e objeto de tabus e deveres particulares), a fim de exaltar a personalidade (2)127- A palavra persona é realmente uma expressão muito apropriada, porquanto designava originalmente a máscara usada pelo ator, assinalando o papel que este ia desempenhar na peça. (2)133- A persona é um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca daquilo que “alguém parece ser”: nome, título, função, etc. (2)134- A persona é um recorte mais ou menos arbitrário e acidental da psique coletiva e cometeríamos um erro se a considerássemos, in toto, como algo de individual. Como seu nome indica, ela é uma simples máscara da psique coletiva, máscara que aparenta uma individualidade, procurando na realidade, convencer aos outros e a si mesma que é uma individualidade, quando na realidade, não passa de um papel no qual fala a psique coletiva. Ela é parte da psique coletiva da qual a consciência se apodera para expor à sociedade uma aparência de individualidade. (2)32- Entretanto, a verdadeira individualidade não deixa de estar sempre presente, fazendo-se sentir de forma indireta. (2)33

 

6. ANIMA E ANIMUS - Anima e animus são complexos autônomos que constituem uma função psicológica do homem e da mulher, respectivamente. Sua autonomia e falta de desenvolvimento usurpa, ou melhor, retém o pleno desabrochar de uma personalidade. (2)86- Devido à força de sugestão positiva e numinosa, o animus e a anima constituem as bases arquetípicas das divindades masculina e feminina... Enquanto númens (qualidade emocional, mágica), o animus e a anima produzem ora o bem, ora o mal. O que os discrimina é a oposição dos sexos. Por este motivo, constituem sempre um par de opostos que não estão irremediavelmente separados por uma contradição lógica.Em virtude da atração mútua própria desta polaridade, não somente ela promete uma unificação, como até mesmo a possibilita. (4)256- No inconsciente da mulher há uma natureza masculina (animus), com característica do Logos do homem (Logos paterno na mulher) que compensa as atividades do consciente da mulher no caso de normalidade. Na mulher, o Logos pode, anormalmente, constituir um incidente deplorável.Ele provoca mal-entendidos e interpretações aborrecidas no âmbito da família e dos amigos, porque é constituído de opiniões e não de reflexões. Como o animus tem tendência a argumentar, é nas discussões obstinadas em que se faz notar a sua presen-ça. Quando o animus predomina na mulher, o que importa é o poder da verdade ou da justiça, ou qualquer outra coisa abstrata. O pai (=soma das opiniões tradicionais) desempenha um grande papel na argumentação da mulher. Por mais amável e solícito que seja o seu Eros, ela não cede a nenhuma lógica da terra, quando nela cavalga o animus.No inconsciente do homem há uma matriz feminina (anima), com características do Eros da mulher (Eros materno) que compensa as atividades do consciente do homem no caso de normalidade. No homem o Eros é a função de relacionamento, via de regra aparece menos desenvolvido do que o Logos.Nos comportamentos anormais, quando os homens são possuídos pela anima, eles argumentam de maneira bem feminina e o que interessa é a vaidade e a sensibilidade pessoais e para as mulheres, ao contrário, é o poder da verdade ou da justiça. (4)12,13-A mulher tomada pelo animus, corre sempre risco de perder sua feminilidade, sua persona adequadamente feminina. O homem, em iguais circunstâncias, arrisca efeminar-se. (2)85

 

7. RELAÇÕES ENTRE PERSONA, ANIMA/ANIMUS E SOMBRA- Para que possamos compreender as relações das instâncias da psique, é importante fazer um breve comentário sobre o que vem a ser disposição.O conceito de disposição constitui uma aquisição relativamente recente da Psicologia. Para nós, a disposição é estar a psique preparada para agir ou reagir numa determinada direção.A disposição revela sempre uma direção que poderá ser consciente ou inconsciente

porquanto haverá sempre combinação de conteúdos já disposta, infalivelmente, a dar destaque, no ato de percepção do novo conteúdo, às qualidades ou fatores que permaneçam mais convenientes ao fator subjetivo.A conveniência ou

inconveniência será decidida pela combinação ou constelação de conteúdo previamente disposta. A disposição significa uma expectativa, e uma expecta-tiva opera sempre selecionando e imprimindo uma direção. A seleção já está feita a priori e, além disso, efetua-se automaticamente.Não obstante, é possível distinguir, na prática, determinados tipos de

disposição, na medida em que se podem distinguir determinadas funções psíquicas.Quando uma função é predominante,

surge, via de regra, uma disposição típica. Assim, há uma disposição típica do pensamento, como há do sentimento, do

perceptivo e do intuitivo. (14)493-496- A experiência cotidiana autoriza-nos tanto a falar de uma personalidade exterior

como de uma personalidade íntima. A personalidade íntima é a maneira e o modo de nos comportarmos em face dos

processos psíquicos interiores; é a disposição íntima, o caráter que opomos ao inconsciente – é a anima, a alma. Dou o

nome de persona à disposição externa, ao caráter exterior.Assim como a persona é uma essência que, freqüentemente,

constitui todo o caráter aparente de um ser humano e que, em alguns casos, o acompanha imutavelmente a vida inteira,

também a alma (anima/animus) constitui uma essência de contornos bem definidos, de um caráter por vezes imutável,

sólido e independente.No que diz respeito ao caráter da alma, é minha opinião, comprovada pela experiência, que rege o

princípio básico e geral de que, no seu todo, a alma (anima/animus) comporta-se complementarmente em relação ao

caráter externo (persona).A experiência nos ensina que a alma costuma possuir todas as qualidades humanas que faltam

na disposição consciente (persona).Uma mulher muito feminina terá uma alma masculina (animus), e um homem viril

uma alma feminina (anima). Quanto mais viril for sua disposição externa (persona), mais os traços femininos serão

eliminados da personalidade externa e aparecerão na anima. Isto nos explica por que, justamente, homens muito viris

evidenciam características debilidades.São determináveis, influenciáveis pelos estímulos do inconsciente, comportam-

se de maneira feminina. Pelo contrário, as mulheres mais femininas são aquelas que, precisamente, em certas coisas

íntimas revelam uma inflexibilidade, uma teimosia e uma obstinação tão intensas como as que só é possível observar na

disposição externa de um homem. (14)480,481- A persona, imagem ideal do homem tal como ele quer ser, é compensada

interiormente pela fraqueza feminina; e assim como o indivíduo exteriormente faz o papel de homem forte, por dentro

torna-se mulher, torna-se anima, e é esta que se opõe à persona. (2)70- Do mesmo modo que no homem a anima é a

figura que compensa a consciência masculina, na mulher a figura compensadora é o animus. (2)81- Nem sempre as

projeções pertencem à esfera da sombra já que muitas vezes os símbolos que afloram nesses casos não se referem ao

mesmo sexo, mas ao sexo oposto. Como fonte de projeções estão, pois, o animus e a anima. (4)8- Com a análise da

sombra e dos processos nela contidos, é possível fazer sair da casca a sizígia (par de opostos) anima/animus.Um exame

mais detalhado da sombra nos revela um mundo tenebroso que oculta no seu interior fatores autônomos e influentes,

em si indistinguíveis, quais sejam, o animus e a anima. Quando os observamos ao vivo e em plena atividade – na mulher,

como diabo da opinião, destruidor, cego e obstinado (animus); no homem, como uma sedutora ofuscante, cambiante,

possessiva e emocional (anima)......o indivíduo inconsciente, ou seja, a sombra, não é constituído apenas de tendências

moralmente reprimidas, mas apresenta um certo número de boas qualidades: instintos normais, reações adequadas,

impulsos criadores, e outros....como causadores do mal e autores do mal, surgem a anima e o animus. Por outro lado,

porém, não é possível ficar somente neste conhecimento, pois, torna-se evidente que todos os arquétipos, em geral,

produzem espontaneamente efeitos favoráveis e desfavoráveis, luminosos e obscuros, bons e maus. (4)2548.                                                                              

 

LIVROS CONSULTADOS1. O Desenvolvimento da Personalidade. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19722. O Eu e o Inconsciente. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19713. Psicologia das Doenças Mentais. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19714. Aion. Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19765. Psicologia e Religião. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19716. Freud e a Psicanálise. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 19717. Jung. E. G. Humbert. Summus Editora. São Paulo, 19838. Em Busca de Jung, J. J. Clarke. Ediouro. Rio de Janeiro, 19929. O Homem e seus Símbolos. Editora Nova Fronteira. Rio de Janeiro, 196410. Psicologia do Inconsciente. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 197111. Psiquiatria. Nobre de Melo. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 197912. A Natureza da Psique. C. G. Jung. Vozes. Petrópolis, 197113. O Segredo da Flor de Ouro. C. G. Jung e R. Wilhelm. Vozes, Petrópolis, 199214. Tipos Psicológicos. C. G. Jung. Zahar Editores, Rio de Janeiro, 197615. Memórias, Sonhos, Reflexões. C. G. Jung. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 196316. Presente e Futuro. C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 1991

 

 

                                        

                                                                                          

 

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