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- A maioria das impressões surgidas nos primeiros anos de vida se torna rapidamente in-consciente e forma a camada infantil do inconsciente pessoal, como o denomino. Tenho certas razões para propor essa divisão do inconsciente. O inconsciente pessoal encerra tudo o que foi esquecido (suprimido) ou reprimido ou de qualquer modo se tornou subliminar, tudo o que a pessoa adquiriu antes de modo consciente ou inconsciente. Tais materiais são marcados por um cunho inconfundivelmente pessoal. Mas no inconsciente podem ser encontrados ainda outros conteúdos, que parecem inteiramente estranhos à pessoa e, muitas vezes, não apresentam o menor vestígio de uma qualidade pessoal. Esses conteúdos estranhos podem aparecer nos sonhos de pessoas normais e são, frequentemente, encontrados nos doentes mentais.

Enquanto no neurótico o material recolhido costuma ser predominantemente de origem pessoal (relativo à família e à sociedade), no doente mental, como na esquizofrenia, o material é de origem coletiva (voz de Deus, transformações cósmicas, espíritos, demônios, magia, perseguições ocultas). Essa última camada da psique inconsciente é denominada de inconsciente coletivo.
É coletivo porque não se trata de nada que tenha sido adquirido pessoalmente. É como que o funcionamento da estrutura herdada do cérebro, a qual em seus traços gerais é a mesma em todos os seres humanos, e de certo modo até mesmo em todos os mamíferos. É o resultado da vida de nossos antepassados.
Nossa consciência pessoal é como um edifício erguido sobre o inconsciente coletivo, de cuja existência ela normalmente nem suspeita. (1)120,121,122
 

 

2. ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS (PALAVRAS) E COMPLEXO - Aristóteles foi quem formulou as “leis” que regem e dirigem o processo associativo, que foi posteriormente ampliado e passou a constituir o eixo e o fundamento de toda atividade psíquica, senão mesmo o mecanismo único, que impele e comanda as operações de nossa vida mental. Em sentido estrito, a associação é um processo psíquico, consciente ou inconsciente, espontâneo ou provocado, mediante o qual estabelecem-se significativas entre dados imediatos ou mediatos do conhecimento.Sob certo aspecto, o processo associativo redunda em evocação, que é, como já sabemos, uma fase de memória, marcada pelo esforço consciente de busca interior da recordação. Mas, trata-se aqui de uma evocação passiva, mecânica, automática, que transcorre à maneira de um reflexo condicionado.Os modos de associação mais correntemente observados e aceitos, são:a) por simultaneidade temporal;b) por contiguidade temporal;c) por semelhança externa;d) por semelhança interna.Os dois primeiros podem fundir-se sob a designação de associação por proximidade têmporo-espacial.O importante, contudo, é reconhecer que o liame associativo, que preside à execução da maioria das associações, reside na esfera afetiva, inclusive em tudo isso que se entende por inconsciente reprimido, o que nos leva a corroborar a realidade da ação dos complexos, na determinação, duração, direção e extensão do fluxo associativo, bem como no caudal e tonalidade de seus conteúdos respectivos, fatos confirmados, tanto pelo “método das associações livres” (Freud) quanto pela “prova das associações determinadas” (Bleuler – Jung) (11)418,419.- Em 1936, Jung revelou que a tendência da psique para cindir-se é fundamentalmente “um fenômeno normal” que não “precisa ser uma questão de personalidade múltipla histérica, ou alterações esquizofrênicas da personalidade, mas apenas os chamados complexos, que se situam inteiramente dentro da esfera do normal.Em casos anormais, eles podem aparecer como vozes interiores ou mesmo como algum tipo de possessão, capaz de instalar-se e dominar, mas, na maior parte, são as tensões dinâmicas internas da psique, que representam um papel básico no crescimento pessoal (8)189- A técnica da associação de palavras é atribuída, em primeiro lugar, a Wundt e Galton, ambos pioneiros no século XIX dos primeiros dias da psicologia, e além deles, à tradição empirista britânica, que Jung conhecia através de seu representante francês, Condillac. Jung ajudou a refinar e aprimorar os testes de associação de palavras. Consistiam em ler uma lista de palavras para o paciente, convidando-o a reagir a cada uma com a primeira palavra que lhe ocorresse e em seguida registrar o tempo de reação com um cronômetro. (8)25- Ao aplicar os testes de associação de palavras, ocorreu a Jung a idéia de que algumas delas, em particular as que surgiam após um tempo de reação mais longo do que a média, poderiam estar ligadas de uma maneira significativa, sendo possível demonstrar que forneciam uma pista para uma área de distúrbio psíquico do paciente. Isto, por seu lado, deu origem à idéia de um complexo, que Jung interpretava como uma rede significativa de disposições mentais, pensamentos e sentimentos que ocupavam um lugar identificável e relativamente isolado na psique como um todo. (8)26- A unidade funcional da vida psíquica é constituída pelo complexo que tem três componentes: percepção sensorial, componentes intelectuais (representação, imagens de memória, juízos, etc.) e tonalidade afetiva. Esses três elementos encontram-se firmemente unidos, de maneira que, ao emergir uma determinada imagem na memória, em geral, todos os elementos a ela associados também vêm à tona (a percepção sensorial é representada através de uma excitação centrífuga da esfera sensorial correspondente). (3)31- As idéias isoladas, relacionam-se entre si pelas diferentes leis de associação (semelhança, coexistência, etc.), embora sejam selecionadas e agrupadas em combinações mais amplas pelos afetos. Toda associação pertence a um ou outro complexo. (3)33- Cada emoção produz um complexo de associações, mais ou menos extenso, a que dei o nome de complexo ideo-afetivo. Os complexos constituem os componentes fundamentais da disposição psicológica em toda estrutura psíquica. (6)28- Todo complexo autônomo, ou relativamente autônomo, tem a particularidade de apresentar-se como personalidade, ou melhor, personificado. Onde pode observar-se tal fenômeno, com uma ênfase especial, é nas assim chamadas manifestações espíritas da escrita automática e outras semelhantes.O raciocínio ingênuo deduz imediatamente que se trata de espíritos. Algo semelhante costuma ser observado nas alucinações dos doentes mentais. A tendência do complexo relativamente autônomo a personalizar-se, explica a atuação extremamente “pessoal” da persona, a ponto do “eu” sentir-se em dificuldade frente à questão de sua “verdadeira” personalidade. (2)72,73

 

3. ARQUÉTIPOS E INCONSCIENTE COLETIVO

- Nenhum biólogo pensaria em admitir que todo indivíduo adquire de novo seu comportamento. Bem mais provável é que o jovem pardal teça seu ninho característico porque é um pássaro e não um coelho. Assim também é mais provável que o homem nasça com sua maneira de comportar-se especificamente humana e não como a de um hipopótamo, ou mesmo com nenhuma. (12)163

- Do mesmo modo, o instinto da formiga saúva realiza-se na imagem da formiga, da folha, do corte da folha e de seu transporte, e no pequeno jardim de fungos, cultivado pelas formigas.
Se falta uma dessas condições, o instinto não funciona, porque não pode existir sem forma total, sem sua imagem que é apriorística.

As formas de cada instinto são idênticas para todos os indivíduos da mesma espécie. O mesmo se aplica ao homem quando ele também realiza seu padrão de comportamento.
No homem, a realização do instinto perde seu caráter absoluto quando limitado pela relativa liberdade da vontade (instinto psificado). A consciência é, pois, uma transformadora da imagem instintiva original.
Baseado nessa modificação da imagem instintiva, pela consciência, Jung diz que por isso, não é de surpreender que a mente humana considere impossível determinar tipos precisos de pessoas, semelhantes aos que conhecemos no reino animal. Pela observação que relata a seguir, conseguiu descobrir uma via indireta para chegar à imagem instintiva do homem:

1 - Pacientes cujos sonhos indicavam rico material produzido pela fantasia.

2- Aproveitou a imagem onírica ou a associação de ideias e deu tarefas aos pacientes para elaborar ou desenvolver essas imagens, deixando a fantasia trabalhando livremente.

3- A tarefa dependia do gosto do paciente: forma dramática de representação, dialética, visual, acústica, dança, pintura, desenho ou modelagem. Esse método foi denominado “imaginação ativa”.

4- Observou que como consequência, após as tarefas, em muitos pacientes, surgia um efeito terapêutico devido à redução da pressão inexplicável exercida pelo inconsciente.

5- Observou que as configurações obtidas pelas tarefas encerravam um certo direcionamento, apesar de ser uma multidão caótica de imagens.

6- Entretanto, observou que com o passar do tempo, esse caos se reduzia à medida que ele refletia e comparava as imagens produzidas pelos diversos pacientes.

7- Observou que determinados temas e elementos formais se repetiam de forma idêntica ou análoga nos mais variados indivíduos.

8- Observou como características mais salientes: a multiplicidade caótica e a ordem, a dualidade, a oposição entre luz e trevas, entre o supremo e o infinito, entre a direita e a esquerda, a união dos opostos em um terceiro, a quaternidade (quadrado e cruz), a rotação (círculo e esfera), e, finalmente, o processo de centralização e o arranjo radial, em geral dentro de um sistema quaternário.

9- O processo de centralização constitui, segundo diz a experiência, o ponto mais alto e jamais ultrapassado de todo o desenvolvimento, e se caracteriza como tal, pelo fato de coincidir com o efeito terapêutico maior possível.

10- Observou que naquele caos de configurações estavam representados diversos temas mitológicos; e que o conhecimento da mitologia dos pacientes reduziam-se ao mínimo.

11- Essas fantasias eram dirigidas por reguladores inconscientes. Assim, poderiam ter consciência do que é um círculo ou um quadrado que desenhavam, mas os princípios formadores dessas imagens eram inconscientes e pela mesma razão o significado psicológico.

12- Concluiu que um processo idêntico levava às repetições por ele observadas – um impulso obscuro que decide, em última análise, quanto à configuração que deve seguir; ou seja, é um a priori inconsciente que nos leva a criar formas.

13- Por sobre todo o processo, parece que paira uma precognição obscura, não só daquilo que vai tomando forma, mas também de sua significação.

14- Estas experiência e reflexões levaram Jung a reconhecer que existem certas condições coletivas inconscientes que atuam como reguladoras e como estimuladoras da atividade criadora de fantasia e provocam as configurações correspondentes, utilizando-se do material consciente já existente para esse fim.

15- A existência destes reguladores inconscientes – que às vezes chama, também, de dominantes (arquétipos) por causa de sua maneira de funcionar, pareceu a ele de tamanha importância, que baseou sobre esses reguladores a hipótese de um inconsciente coletivo, dito impessoal.

16- Na medida em que os arquétipos intervêm no processo de formação dos conteúdos conscientes, regulando-os, modificando-os e motivando-os, eles atuam como instintos. (12)339-342

- Os arquétipos se dividem fenomenologicamente em duas categorias: uma instintiva e outra arquetípica. A primeira é constituída pelos impulsos naturais e a segunda pelas dominantes (representações arquetípicas) que irrompem na consciência como ideias universais. (12)154

- Os arquétipos têm uma natureza a respeito da qual não se pode dizer com certeza que seja puramente psíquica. (12)166

- Não devemos confundir as representações arquetípicas que nos são transmitidas pelo inconsciente com o arquétipo em si. Essas representações são estruturas amplamente variadas que nos remetem para uma forma básica irrepresentável que se caracteriza por certos elementos formais e determinados significados fundamentais, os quais, entretanto, só podem ser apreendidos de maneira aproximativa.
O arquétipo em si é um fator psicoide que pertence, por assim dizer, à parte invisível e ultravioleta do espectro psíquico. (12)150

Ao se referir à parte invisível e ultravioleta do espectro psíquico, Jung está fazendo uma analogia com o espectro da luz que se torna visível quando o comprimento de ondas está entre 7.700 e 3.000 angströms. Diz que através dessa analogia, podemos imaginar facilmente que há um limiar inferior e um limiar superior para os processos psíquicos e que, consequentemente, a consciência, que é um sistema perceptivo por excelência, pode ser comparada com a escala perceptiva da luz (e do som), tendo, como estes, um limite superior e um inferior. Acho que poderia estender esta comparação à psique em geral, o que seria possível, se houvesse processos psicoides nas duas extremidades da escala psíquica. (12)115

- Como outros arquétipos dão origem a dúvidas semelhantes, pareceu-me provável que a verdadeira natureza do arquétipo é incapaz de tornar-se consciente, quer dizer, é transcendente, razão pela qual eu a chamo de psicoide.
Além disso, qualquer arquétipo torna-se consciente a partir do momento em que é representado, e por esta razão difere, de maneira que não é possível determinar, daquilo que deu origem a essa representação. (12)150

- É preciso dar-nos sempre conta de que aquilo que entendemos por arquétipos é, em si, irrepresentável, mas produz efeitos que tornam possíveis certas visualizações, isto é, as representações arquetípicas. (12)151

- Quando a Psicologia admite a existência de certos fatores psicoides irrepresentáveis, com base em suas observações, em princípio ela está fazendo a mesma coisa que a Física, quando constrói um modelo atômico. (12)151

- A ser assim, sua posição (posição arquetípica) estaria situada para além dos limites da esfera psíquica, analogamente à posição do instinto fisiológico que tem suas raízes no organismo material e com sua natureza psicoide constitui a ponte de passagem à matéria em geral. (12)153

- O instinto possui dois aspectos fundamentais: de um lado, o fator dinâmico e, de outro, o sentimento específico, e correspondem, respectivamente, à compulsão e à intenção. É muito provável que todas as funções psíquicas do homem repousem sobre a base do instinto, como é o caso manifesto dos animais. Nestes, o instinto pode ser imediatamente reconhecido como o “spiritus rector” (espírito guia) de todo comportamento. Essa constatação só vem a ser questionável quando uma certa capacidade de aprendizagem começa a se desenvolver como ocorre, por exemplo, com os macacos mais complexos e os homens. Aqui, devido à capacidade de aprendizagem, o instinto sofre inúmeras modificações e diferenciações gerando, por fim, no homem civilizado, um estado no qual só muito instintos podem ser encontrados em sua forma originária. Estes são basicamente os dois instintos acima mencionados e seus derivados com os quais a psicologia médica vem se ocupando até hoje. (16)36

- O inconsciente coletivo é uma figuração do mundo, representando a um só tempo a sedimentação multimilenar da experiência (humana). Com o correr do tempo, foram-se definindo certos traços nessa figuração. São os denominados arquétipos ou dominantes – os domina-dores, os deuses, isto é, configurações das leis dominantes e dos princípios que se repetem com regularidade à medida que se sucedem as figurações, as quais são continuamente revividas pela alma. Na medida em que essas figurações são retratos relativamente fieis dos acontecimentos psíquicos, os seus arquétipos, ou melhor, as características gerais que se destacam no conjunto das repetições das experiências semelhantes, também correspondem a certas características gerais de ordem física.

Devido ao seu parentesco com as coisas físicas, os arquétipos quase sempre se apresentam em forma de projeções, e quando estas são inconscientes, manifestam-se nas pessoas com quem se convive, subestimando ou sobrestimando-as, provocando desentendimentos, discórdias, fanatismos e loucuras de todo tipo. Esta é a origem dos mitos modernos, em outras palavras, dos boatos fantásticos, das mil e uma desconfianças e preconceitos. (10)86

- Na medida em que fazemos parte da psique coletiva histórica, através do nosso inconsciente, é natural que vivamos, inconscientemente, num mundo de lobisomens, demônios, feiticeiros e tudo mais, porque, antes de nós, em todos os tempos, essas coisas afetaram o mundo violentamente.
É assim que também temos parte com os deuses e demônios, com os santos e os facínoras. No entanto, seria a maior insensatez atribuir-se essas potencialidades, existentes no inconsciente. Por isso é de rigor estabelecer-se a separação mais aguda possível entre o que é de responsabilidade pessoal e o impessoal. É óbvio que isso não significa, em absoluto, negar a existência, talvez extremamente ativa, dos conteúdos do inconsciente coletivo.
Mas, na qualidade de conteúdos do inconsciente coletivo, confrontam-se com a psique individual e diferenciam-se dela. Naturalmente, essas coisas nunca foram separadas na consciência individual do homem ingênuo porque os deuses, os demônios, etc. não eram compreendidos por ele como projeções da alma, como conteúdos do inconsciente, mas co-mo realidades indiscutíveis.

Só a partir do Iluminismo (movimento cultural europeu que cobre o período entre a revolução inglesa - 1688 e a revolução francesa – 1789) é que se passou a negar a existência real dos deuses e a considerá-los como projeções. Foi o fim dos deuses, mas não da função psíquica correspondente, que ficou reprimida no inconsciente. Isso fez que o próprio homem ficasse intoxicado por um excesso de libido, antes aplicada no culto da imagem divina. A desvalorização e repressão de uma função tão importante como a religiosa tem, naturalmente, enormes repercussões na psicologia do indivíduo. Pelo refluxo dessa libido, o inconsciente se fortalece extraordinariamente, passando a exercer uma influência colossal sobre a consciência, através dos seus conteúdos arcaicos coletivos. (10)84,85

- Os arquétipos são a estrutura subjacente da psique, uma herança comum da humanidade, composta de uma teia de elementos formais, modeladores, que nos predispõe a pensar, ex-perimentar e sentir de certas maneiras. Os arquétipos formam uma estrutura psíquica a priori que está presente, pelo menos potencialmente, em todos os seres humanos. (8)53

- O arquétipo é um órgão psíquico presente em cada um de nós, um fator vital para a economia psíquica. Segundo Elie G. Hubert, “o pensamento de Jung está à procura de uma noção de que não dispunha na sua época, a noção de informação.

 

                                                                                 

 

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